sexta-feira, março 09, 2007

Deuses Mínimos





Um dia de Sol, um dia de luz, o frio ainda diz que já cá esteve há pouco tempo, mas é o calor morno que se faz sentir. Abro a janela como se eu estivesse guardado há meses num armário fechado e agora tivesse necessidade de retirar de mim o cheiro a mofo.
E no momento de me debruçar um pouco, um raio de sol brincalhão vem aquecer a minha pele nas mãos e na cara. Os olhos fogem assustados pelo inusitado, mas o corpo fica ali pasmado ao Sol.
O sangue aquecido desperta as pernas, e já não há trabalho que me detenha a consciência dentro de casa. Lá vou eu em cima de um corpo que se move alegremente em direcção indefinida, uma coisa é certa, a rua seguinte tem sempre mais Sol. Eu creio que nestes dias o corpo procura o movimento mais preguiçoso e tomo a direcção da água.
No centro da cidade os cafés estão na hora de descanso, entra-lhes pelas montras o ar límpido da manhã, puxo um cigarro e olho o jornal.
As tragédias são notícias ainda mais distantes num dia destes, o meu corpo pensa no raio de sol que brinca com a minha mão.