terça-feira, março 20, 2007

O Bancário




Encostou a escada à árvore e com muito cuidado retirou, uma a uma, cada folha daquela árvore frondosa. Depois de concluído o trabalho pôs-se a olhar de longe, verificava se havia alguma folha pendurada. O contraste do branco das flores com o tom escuro da árvore sem folhas dava o acabamento que desejara. Varreu as folhas, colocou-as no contentor do lixo. Cada flor tinha o tamanho de um punho, as pétalas abriam-se numa curvatura completa até tocar no pedúnculo.
Subiu novamente para o escadote, desta vez para tirar as ervas que tinham nascido no muro que separava o seu jardim do jardim vizinho. “Jardim vizinho” teria sido a expressão que teria utilizado se estivesse a falar com amigos, o jardim vizinho já tinha desaparecido há muito tempo, do outro lado estava plantada uma ilha. A ilha tinha sido motivo de vergonha, essa fora a razão pela qual mantinha fechadas as portadas de todas as janelas que davam para o jardim.
Nunca se tinha colocado numa dessas janelas de forma a que alguém o pudesse ver, só a mulher que fazia a limpeza semanal abria as janelas para deixar respirar as salas dessas divisões, não queria ter qualquer familiaridade com as gentes da ilha. De noite, uma vez por outra, permitia-se a abrir uma nesga de janela com a luz da sala fechada, para verificar se havia alguma ilegalidade dentro da ilha. Uma noite viu como estavam a roubar a madeira das casas vizinhas, telefonou imediatamente à polícia, da polícia responderam tão grosseiramente que ficou irritado. Nessa noite não conseguiu dormir, tirou o carro da garagem e foi passear para o centro da cidade, gostava de conduzir devagar nas ruas que tinham estado fervilhantes de gente durante o dia. De noite não havia praticamente ninguém, só o habitual comércio de carne.
Não perdia nunca a oportunidade de ver a trabalhar uma negra roliça, de uma altura gigante, avantajada de mamas, risonha e simpática. Chegava a corar quando imaginava como poderia ser uma noite de pecado com aquela mulherona. Mas o seu receio era maior que o seu desejo e continuava o seu caminho dentro da muralha protectora do seu automóvel. Quem sabe um dia perdia o medo e abria a porta aos convites lascivos da matrona.
De volta a casa, adormecia e sonhava com sodomitas, no seu entender o ódio ao pecado abalava-lhe os sonhos e invertia-lhe os desejos.