quarta-feira, maio 09, 2007

Não faça isso kéfeio.



Quando éramos crianças e metíamos o dedo no nariz e as nossas avós apressavam-se a tirá-lo e diziam severamente: Não faça isso kéfeio. Havia sempre algo que as irritava e que as surpreendia no nosso comportamento, aprendíamos a não apontar o dedo quando queríamos indicar algo nos outros – aquele senhor é preto – O não faça isso kéfeio aparecia disparado e aprendíamos a lidar com o mundo ainda que aquele comportamento da avó parecesse muito injusto e irritante. Deixávamos de comer com a boca aberta, meter a mão dentro das calças, levantar a saia às meninas, cuspir na janela, todo um mundo de pequenos prazeres eram-nos retirados com aquele sublinhado a vermelho que era importante respeitar ainda que não soubéssemos muito bem porquê.
Hoje, que estou quase a chegar à idade da minha avó, resolvi fazer também uma lista do – Não faça isso kéfeio – com o qual me apetecia dar um pequeno estalo na mão de uma sociedade que age como uma criança ingénua.

Lista de - Não faça isso kéfeio –


- Pedir dinheiro emprestado a um banco para comprar uma casa.
- Pensar nas taxas de juro, no crescimento económico e na taxa de desemprego.
- Pensar no que comprar a seguir sempre que somos satisfeitos com o prazer de uma compra e de um excesso.
- Tirar fotografias quando se está em viagem de férias.
- Pensar como atafulhar o período de férias com viagens de prazer e estadias em SPAs.
- Pegar na máquina de calcular para compreender como é que a conta da Internet por cabo é 25 euros mas com o Iva sobe para 40 euros.
- Estar aterrorizado com cada notícia de abertura do jornal da noite.
- Falar de doenças, vitaminas e colesterol em conversas de circunstância.
- Comprar um alarme para o automóvel.
- Comer nas praças da alimentação.
- Não comer peixe.
- Agir como se a “Queima das fitas” fosse algo normal e aprovável.
- Considerar a entrega do poder na Polónia a dois gémeos como algo normal.
- Não lembrar nunca que existe um terceiro mundo cujo nível de vida nunca poderá ser igual ao nosso.
- Achar normal os ganhos da banca nos últimos anos.
- Achar normal a distribuição da riqueza.
- Aceitar a dívida da população, do país, e o enriquecimento das grandes empresas.
- Não colocar em causa o actual Status Quo.
- Não pensar na contradição – País rico grande consumo de antidepressivos, país pobre grandes índices de felicidade.
- Fazer exercício físico num espaço fechado procurado expressamente para isso.

1 Comments:

At 9:08 da manhã, Blogger d. said...

Love it!! :)

 

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