DOIS ANOS A CRIAR SONHOS
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Nascida na ilha da travessa, freguesia de S. Ildefonso, Maria de Fátima sempre foi uma menina tristonha, aos treze anos botou corpo, o pai, emigrado em França, foi peremptório – esta rapariga já pode ir trabalhar, disse-o convicto e avaliativo, como quem faz um grande investimento. A mãe desfez-se em queixas, mas lá acedeu a dá-la à D. Teresa para aprender costura, assim sempre chegaria a casa a horas de a ajudar a mãe a criar os irmãos mais novos.
O Senhor Teixeira da Mercearia
“O Sol já nasceu. Barras de amarelo e verde incidem na praia, dourando as traves do barco carcomido e fazendo com que as algas emitam reflexos azul-metalizado. A luz quase que atravessa as finas ondas que se estendem pela praia. A rapariga que abanou a cabeça, fazendo dançar todas as jóias, os topázios, as águas-marinhas, as contas cor de água com lampejos de fogo, desnudou agora a testa e, de olhos bem abertos, traça um caminho em linha recta por sobre as ondas. Os seus brilhos tremeluzentes escurecem; os seus abismos verdes, aprofundam-se e escurecem, podendo ser atravessados por cardumes errantes de peixes. À medida que se quebram e recolhem, deixam atrás de si, na praia, uma orla composta por raminhos e cascas de árvores, palhas e pedaços de madeira, tal como uma chalupa se tivesse quebrado contra as rochas, os marinheiros tivessem nadado para terra, e , do alto do penhasco, vissem a frágil embarcação em que seguiam ser arrastada para a praia.
“O Sol ainda não nascera. Era quase impossível distinguir o céu do mar, mas este apresentava algumas rugas, como se de um pedaço de tecido se tratasse. Aos pouco, à medida que o céu clareava, uma linha escura estendeu-se no horizonte, dividindo o céu e o mar. Então o tecido cinzento coloriu-se de manchas em movimento, umas sucedendo-se às outras, junto à superfície, perseguindo-se mutuamente, em parar.
Escolher cinco livros, sem mais razões do que aquelas que se verificariam, por exemplo, se os livros que eu já li fossem queimados, não restando mais nenhum exemplar, e eu tivesse que salvar cinco dessa fogueira. Os livros de cozinha poderiam ser novamente escritos, ou outros de igual sabor, os romances não podiam ser escritos novamente, mas nunca haverá de faltar histórias para contar, é possível imaginar a recriação da totalidade das obras que eu li, ou pelo menos a cópia dessa lembrança. O que não poderia ser novamente abordada, pensada ou recriada, é a poesia. A poesia não existe sem a essência de cada palavra.